Ainda mais pérolas do vestibular

Em fevereiro, publiquei uma crônica com o título O Maior Matrimônio do País É a Educação, com aquelas chamadas “pérolas do vestibular”. Recebi o material – e disse na crônica – pela Internet e me informavam ter sido do último vestibular da UFRJ.

Pois a crônica foi republicada numa revista chamada Agitação e caiu nas mãos de um simpático senhor chamado José Ismael Pirágine, professor aposentado.

Pois o professor acaba de sair da minha casa. Veio me trazer um exemplar de seu livro (Editora Símbolo, esgotado desde 1976) chamado Como É Que É?. O livro, sim, é uma pérola. E todas aquelas ditas da UFRJ do ano passado foram, na realidade, retiradas do livro do velho mestre. Me contou que ficou vários anos anotando as barbaridades de vários vestibulares pelo Brasil adentro. Um livro (atenção editoras) que merece ser republicado.

E, já que estou com a mão na massa, vamos publicar mais algumas.

HISTÓRIA:

“A finalidade das Cruzadas era passear pelo deserto em busca de aventuras.”

“Anchieta ficou como refém entre os índios, lá ele escreveu o poema à Virgem Maria e fez o rascunho na praia.”

“Os engenhos brasileiros eram chamados de senhor de engenho.”

“Luís Alves de Lima e Silva pela sua bravura recebeu o nobre título de Caxias.”

“Na história do descobrimento do Brasil, o acaso é um ponto convertido.”

“O Brasil, se pensarmos e olharmos bem, não foi descoberto por acaso.”

“Por causa do ouro em Minas Gerais, Filipe dos Santos foi preso e esquartejado por dois cavalos.”

“Com o descobrimento da bússola, os marinheiros puderam se afundar no mar.”

“Depois que Gutemberg inventou a imprensa, isso revoltou o mundo.”

“Antigamente, antes da invenção da imprensa, a leitura era sacrilégio dos ricos.”

“A luta de classes entre os romanos foi a maior luta de todos os tempos.”

“Araribóia, depois da expulsão dos franceses, por causa de sua coragem, ganhou como prêmio umas seis marias perto do Rio de Janeiro.”

“Os índios brasileiros tinham medo dos animais domésticos; eles só gostavam de animais ferozes.”

GEOGRAFIA:

“As raças têm muita diferença entre si: assim, uns têm nariz chato, outros igual de papagaio, outros rebitados, etc.”

“A escala serve para saber quanto que um mapa é menor que ele mesmo.”

“Latitude de um lugar é quando a gente pega uma barca e chega no mesmo lugar.”

“Horizonte é onde que parece que é o fim do mundo.”

“O horizonte é até aonde a nossa vista alcança e conforme a gente vai andando ele também vai.”

“O tamanho da terra e do sol é como um grão de areia e uma sala de aula.”

“O Brasil é um dos países mais intensos do mundo.”

“A alimentação é o meio de digerirmos o corpo.”

“Influência do meio sobre o homem: exemplo – o fato de uma pessoa estar rindo e a colega não sabendo porque a outra ri, poem-se a rir também, é a influência.”

“Princípio de Arquimedes: todo corpo mergulhado na água, sai completamente molhado.”

MATEMÁTICA:

“Ângulo é duas linhas que vão indo e se encontram.”

“Triângulo são os filhos trigêmeos do ângulo.”

“Circunferência é uma roda chata. Para a sua fabricação usamos o compasso.”

“Tangente é quando a bola passa raspando no jogo de futebol. Ela também tem o nome de trave.”

“Conjunto vazio é aquele em que os músicos não sabem nada de música e tocam ‘na orelhada’.”

“Um paralelepípedo é um animal cujos dois pés para paralelos.”

“Um número concreto é um número que vemos a olho nú.”

PORTUGUÊS:

“Objeto direto é quando a gente ganha um presente diretamente da pessoa que dá; e indireto, a pessoa não pode entregar e manda outro dar.”

“Vogal é a letra que sai do pulmão até a boca.”

“Sujeito é a pessoa com quem estamos falando.”

“Preposição é quando uma pessoa coloca um objeto antes de a gente mandar.”

“Abreviação é quando o aluno está com preguiça de escrever a palavra toda, então só escreve uma parte dela.”

“Artigo é qualquer tipo de mercadoria. Assim, quando vamos a uma loja e o balconista quer vender mesmo, ele diz assim: ‘Este artigo é o melhor da praça.'”

(Mário Prata – O Estado de S. Paulo, 10/10/2001)

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