CARTA DE UMA MÃE PORTUGUESA

Lisboa, 28 de abril de 2000

Querido Filho:

Te escrevo estas linhas para que saibas que estou viva, te escrevo devagar porque sei que tu não consegues ler rápido.

Bom, não vais mais reconhecer a casa quando vieres, porque a gente mudou. Por fim enterramos teu avô, encontramos o cadáver dele nesse negócio de mudança; estava no armário desde aquele dia que ganhou da gente brincando de esconde-esconde.

Hoje tua irmã Júlia teve um filho, mas como ainda não sei se é menino ou menina, não posso dizer se tu és tio ou tia. Quem não tem aparecido por aqui é o tio Venâncio, que morreu totalmente no ano passado.

Que posso te dizer, teu primo Jacinto sempre acreditou que era mais rápido que um touro, já comprovou que não.

Olha que estou preocupada com o cachorro Boby, que insiste em perseguir os carros parados e está ficando cada vez mais chato.

Ah! por fim os engarrafadores de refresco pensaram em por um letreiro na tampinha que diz: “Abra por aqui”.

Perdoa a má letra e os erros de ortografia, mas me cansei de escrever e agora estou ditando para teu pai, e tu podes ver como ele é bruto.

Que achas? Que teu irmão José fechou o carro com a trava e deixou as chaves dentro; teve que ir lá em casa para pegar a chave duplicata e poder tirar todos nós de dentro do carro. Passamos o maior calor!!!

Esta carta te mando com Manolo, que vai amanhã para lá. Puxa! Será que podes pegá-lo no aeroporto?

Bom meu filho, não escrevo o endereço porque não o sei. É que a última família portuguesa que vivia aqui nesta casa, levou os números para não terem que mudar de endereço.

Se encontrares a dona Maria dá um alô da minha parte; caso não a encontres, não diga nada.

Tua mãe que te ama.

EU

P.S. Ia te mandar cem euros, mas já fechei o envelope.

(postado originalmente em 28 de agosto de 2003)

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