Que civilidade? Que moral?

Hoje, quando começa mais um Big Brother Brasil no plim-plim, trago um texto bem oportuno que minha amiga Elis Monteiro escreveu em seu antigo blog pessoal, há seis anos.

Cena 1: a pária namorada de um certo rapaz muito do esperto é traída em cadeia nacional de televisão;

Cena 2: os babacas aqui assistem a tudo isso, em vez de estarem lendo coisas boas ou vendo filmes edificantes;

Cena 3: a outra “namorada” dele é expulsa do programa do qual participava. Ele exulta, feliz por ter vencido a “amada”;

Cena 4: a outra “namorada” chega no local onde um monte de párias esperam o momento de recepcioná-la;

Cena 5: a pária namorada “oficial”, vestida com uma camiseta na qual se lá “eu te amo, Fulano”, vai abraçar a “outra”, com quem seu namorado, aquele com quem divide problemas e alegrias, passou quase dois meses se agarrando em cadeia nacional de televisão;

Cena 6: as duas se abraçam, como velhas conhecidas;

Cena 7: o apresentador do programa grita “QUE CIVILIZAÇÃO!!!”

Cena 8: os párias aqui continuam vendo isso…

Moral da história: caro Bial, não é civilização, ou civilidade, ou cordialidade. Isso se chama abominação. Agora, respondam: vocês venderiam seus namorados, amigos, amantes, parentes, por R$ 500 mil? Venderiam sua dignidade, em cadeia nacional de televisão?

Que mundo é esse em que a fidelidade, aquela pura e cristalina, gerada por um sentimento maior que a ganância ou a possessão, deixou de ser natural e se tornou objeto de compra e venda?

Que mundo é esse em que se estimula o jogo sujo, em nome de uma suposta fama e de um dinheiro que nasceu de relacionamentos falidos, sujeiras nacionais, sacanagem explícita?

Tenho dó de você, Bial, por deixar que as pessoas pensem que vender umas às outras é natural.

Tenho dó da nossa sociedade, que perde seu tempo assistindo a monstruosidades desse tipo. Tenho dó daqueles que passam a ver em atitudes como essas tendências de comportamento.

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Meu irmão me chamou de puritana quando leu o texto que postei sobre o BBB.

Sinceramente? Pode ser mesmo! Acho lindo quando histórias de amor surgem por acaso, mesmo em programas de TV. Acho lindo quando duas pessoas se amam e se respeitam e se unem contra as agruras do destino: falta de grana, doença, etc. Acho lindo sonhar, a dois, com uma vida melhor.

O que não aceito é que se concorde com a traição como instituição. Por que não respeitar aqueles que nos amam?

Claro que tenho noção de que a fidelidade é uma coisa difícil de ser mantida, afinal de contas, o mundo tem mais de 5 bilhões de pessoas!!! Mas, quando alguém que a gente quer ou ama decide se entregar a outrem, o que fazer? Se afastar. Ou, como fariam os mais “barraqueiros”, quebrar o pau, xingar, arranhar os discos (como diria a Adriana Calcanhoto).

Aceitar a traição com tamanha passividade só pode ser sinônimo de… falta de amor! Ah, claro, mas existem os R$ 500 mil em jogo! Isso! Em vez de “vender o namorado”, a tal moça “emprestou”. Então tá, tá perdoado! Tá perdoada. Lavou tá limpo!

Já diria Caetano: “quando a gente gosta é claro que a gente cuida…”

(postado originalmente em 12 de março de 2003. Encontrado na internet via Wayback, já que os arquivos originais da Elis, no Blogger, não existem mais.)

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