CRÉDITO AGRÍCOLA

O Banco do Brasil possui um departamento chamado “Carteira de Crédito Agrícola”, que tem como uma de suas responsabilidades fiscalizar a utilização dos empréstimos feitos para a agricultura e pecuária. Esta fiscalização é feita por funcionários do Banco do Brasil, que visitam as propriedades rurais onde foram utilizados os empréstimos e fazem relatórios técnicos da situação encontrada. Os fiscais eram funcionários de carreira do banco, extremamente voluntariosos, mas com extremas limitações no vocabulário.

Abaixo, alguns trechos desses relatórios, pinçados dos arquivos do Banco do Brasil, transcritos exatamente conforme os originais e que são verdadeiras “PÉROLAS RURAIS”:

  • Visitamos o açude nos fundos da fazenda e depois de longos e demorados estudos constatamos que o mesmo estava vazio.
  • Era uma ribanceira tão ribanceada que se estivesse chovendo e eu andasse a cavalo e o cavalo escorregasse, adeus fiscal.
  • Na minha opinião, acho bom o banco suspender o negócio do cliente para não ter aborrecimentos futuros.
  • O Sol castigou o mandiocal. Se não fosse esse gigante astro, as safras seriam de acordo com as chuvas que não vieram.
  • “COBRA” – comunico que faltei ao expediente do dia 14 em virtude de ter sido mordido pela peçonhenta epigrafada.
  • Os anexos seguem em separado.
  • Se não fosse o sol tudo indicava que a chuva aumentasse a safra.
  • Cliente aguarda a capilaridade pluviométrica da zona para plantar a mandioca em local macio e úmido.
  • A casa de farinha nunca foi para frente porque o mutuário que fez o empréstimo deu para trás e nunca mais se levantou.
  • Fui atendido na fazenda pela mulher do mutuário. Segundo fiquei sabendo, ninguém quer comprá-la e sim explorá-la.
  • Imóvel de difícil acesso. O mato tomou conta de tudo, deixando passagem só para animal rasteiro. Próxima vistoria deve ser feita por fiscal baixinho.
  • A máquina elétrica financiada é toda manual e velha. Fazendeiro financiou a máquina elétrica mas fez todo o trabalho braçalmente e animalmente.
  • O gado está gordo e forte, mas não é financiado e sim emprestado somente para fins de vistoria. O filho do fazendeiro está passando férias na disney.
  • Trajeto feito a pé porque não havia animal por perto, só o burro do fazendeiro. Despesa de locomoção grátis.
  • Contrato permanece na mesma situação da vistoria anterior, isto é, faltando fazer as cercas que não ficaram prontas.
  • Mutuário adquiriu aparelhagem para inseminação artificial mas um dos touros holandeses morreu. Sugerimos treinamento de uma pessoa para tal função.
  • O tempo castigou a região. O sol acabou com a farinha e a chuva com feijão.
  • As garantias permanecem em perfeito estado de abandono. Cliente vive devidamente bêbado e devendo aos bares e a Deus e ao mundo.
  • A erradicação da plurieuforbiácea carece das condições pluviométricas.
  • A euforbiácea foi substituída pela musácea sem o consentimento e autorização de nosso querido banco. (A seringueira é uma euforbiácea. A bananeira, uma musácea.)
  • O imóvel está uma boneca. Exemplos como estes devem ser imitados.
  • Levou vários tiros na traseira dados por um tal de Bomba, que perfazeu um total de dois buracos, indo para o hospital.
  • Vistoriei um cavalo moderno, pêlo de rato, que se encontrava trabalhando para um mutuário.
  • Mutuário vem tratando o gado como porco. Não lhe passa um germicida sequer e como tudo no chiqueiro de bodes emprestado.
  • Mutuário triste e solitário pelo abandono da mulher não pode produzir.
  • Visitando a lavoura fumageira da senhora de tal: constatei que sua tabacaria encontra-se seca e impenetrável.
  • O burro novo é bem mais moderno que o contratual.
  • O financiado degustou arruela de ferro e grampo de cerca misturado a forragem indo desta para melhor. Foi substituído por outro que apesar de ser cego de um olho e ter sofrido a amputação de um chifre guardava boas características de reprodutor (pensa-se que deve ser um touro).
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