DESEJOS

DESEJOS
Vinicius de MoraesSérgio Jockymann

Desejo primeiro, que você ame,
e que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer
e esquecendo não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
que mesmo maus e inconseqüentes,
sejam corajosos e fiéis, e que em pelo menos
um deles você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim.
Desejo ainda que você tenha inimigos;
Nem muitos, nem poucos, mas na medida exata para que,
algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil, mas não insubstituível.
E que nos maus momentos, quando não restar mais nada,
essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante;
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
mas com os que erram muito e irremediavelmente,
e que fazendo uso dessa tolerância, você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você sendo jovem não amadureça depressa demais,
e que se maduro, não insista em rejuvenescer e
que sendo velho não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor
E é preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste;
Mas não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom;
o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra, com o máximo de urgência,
acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos,
injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
alimente um cuco ou ouça o João de barro erguer triunfante o seu canto matinal;
Porque assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
por mais minúscula que seja, e acompanhe o seu crescimento,
para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo outrossim, que você tenha dinheiro,
porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano coloque um pouco dele
na sua frente e diga “isso é meu”, só para que fique
bem claro quem é dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
por ele e por você, mas que se morrer, você possa chorar
sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo um homem, tenha uma boa mulher,
e que sendo uma mulher, tenha um bom homem.
E que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte,
e quando estiverem exaustos e sorridentes,
ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer, não tenho mais nada a desejar.

Atualizando: fui informado por Mestre Gravatá de que o autor do poema acima não é Vinicius de Moraes, é o jornalista e romancista gaúcho Sérgio Jockymann. O poema de Sérgio foi publicado em 1978, na extinta Folha da Tarde, de Porto Alegre.

(postado originalmente em 26 de março de 2003)

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